domingo, 18 de novembro de 2012

OPINIÃO CULTURAL: ALMANDRADE

 
O descaso pela arte  




"Na época atual, a fatalidade de toda e qualquer arte é ser contaminada pela inverdade da totalidade dominadora."
 
Adorno



Por Almandrade


 
 
A arte como um trabalho intelectual que amplia a experiência que o homem tem do real e do imaginário, se opõe ao trabalho alienante da sociedade moderna. Por outro lado, no meio de arte convivem compromissos e interesses alheios à própria arte; suas condições de produção se encontram dentro de um campo social e político, sujeito a um conjunto de pressões. O Estado, os patrocinadores e o mercado, visando interesses imediatos, privilegiam, muitas vezes, artistas cujas obras pouco acrescentam ao mundo da inteligência.
 
 
No espetáculo montado pela política, tudo se confunde, tudo passa pela ideologia do poder e pela estética do espetáculo, como: a educação, a economia, a ecologia e os discursos políticos. Nesse palco, a cultura foi relegada a uma coisa mundana, uma espécie de conhecimento ornamental que serve à mídia e ao jogo social; a arte perdeu sua singularidade e suas qualidades que a colocavam acima das banalidades do cotidiano, deixando de ser o olhar que interroga, que transforma cores, texturas, formas, experiências sensoriais em meio de conhecimento. Nesta relação cultura e poder, insere-se a "crise da arte", onde o poder tem prevalecido diante da pesquisa estética.
 
 
Enquanto trabalhos que têm alguma importância pela pesquisa neles investidos, passam despercebidos trabalhos diluidores da informação, reproduções de clichês divulgados pela mídia são celebrados pelos consumidores de decorações e divertimentos culturais. Uma sociedade sem demandas culturais acaba fazendo da arte uma atividade menor. O cotidiano da política e da economia faz o discurso que se infiltra em todos os espaços, expulsando a cultura para a periferia dos interesses da cidadania. Os artistas, que mesmo sem construírem uma obra, tem os seus reconhecimentos garantidos pela indústria da publicidade, se sobrepõem àqueles que tem uma vida dedicada à pesquisa e ao trabalho de edificar uma linguagem, contribuindo para a demolição da ética e do pensamento crítico.
 
 
Sem uma consciência crítica e sem uma convicção ética, artistas, críticos, intelectuais, administradores culturais inventados pela mídia e pelo poder político tomam posição e decidem contra a autonomia e a independência do trabalho de arte. Promovem e divulgam os bens culturais em proveito próprio, para se sustentarem de forma privilegiada numa relação de poder. – Nada mais paradoxal, por exemplo, do que essas leis de incentivo a cultura. Por que incentivar a cultura se ela é um componente essencial para o enriquecimento da sociedade? Antes de ser uma questão de lei, a cultura é uma questão de sensibilidade e de cidadania.
 
 
Há um desinteresse geral pela cultura que ocupa um lugar cada vez menos importante nos discursos do cotidiano. Para ser artista, antes de mais nada, é preciso um tráfego de influências pessoais, acesso à mídia e aos patrocinadores, que fazem da arte um produto incapaz de atribuir um sentido à existência da sociedade. E quem realmente patrocina a arte? – "Os contribuintes pagam aquilo que as empresas recuperam através de isenções fiscais pelas suas doações, e somos nós que verdadeiramente subvencionamos a propaganda." (Hans Haacke). Numa sociedade comandada pela economia, tudo se resume à lei da oferta e da procura.
 
 
A arte, burocraticamente falando, é mais uma imagem carente de sentido que divulga um certo prestígio social e econômico, e menos um meio de conhecimento indispensável para o homem contemplar o mundo. Se a obra de arte é expressão de uma sociedade, testemunho de um tempo, de um estágio de conhecimento, renunciar à sua inteligibilidade é renunciar à história.
 
 
A política, por sua vez, apropriou-se da cultura e fez dela um verniz para animar ou dar um polimento ao discurso político. A arte perdeu sua inocência, ela agora é objeto do mercado, do Estado e de outras instituições que desconhecem seus mecanismos de produção e sua história. Se os partidos políticos que falam de cultura em seus programas de campanha querem fazer alguma coisa pela cultura, não deveriam fazer coisa alguma, e sim, devolverem aos intelectuais, aos artistas, a quem trabalha diretamente com a cultura, o poder de decisão e o comando do processo cultural. É preciso devolver à arte seu território perdido.
 
 
Quem atualmente exerce o poder sobre o destino dos bens culturais, trabalha, direta ou indiretamente para o mercado, ou é burocrata de carreira que pouco entende das linguagens artísticas e suas leituras. Acabam desprezando os seus valores à serviço do senso comum. Muitas instituições que lidam com a arte, sem recursos econômicos e sem um corpo técnico ligado à área, perderam a importância e a autonomia, quando não são agências de eventos irregulares sem um projeto definido. A mídia dominou a cultura e o artista deixou de lado a indagação da linguagem da arte, abandonou a solidão do atelier, para se tornar um personagem público do teatro social. E a proliferação de um produto designado como arte e do discurso estético, sem a arte, pode significar o desaparecimento da própria arte.
 
 
 
Almandrade é artista plástico, poeta e arquiteto.
 

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domingo, 8 de julho de 2012

LITERATURA BRASILEIRA: FERNANDO ATALLAIA




Espaçon(ave)



Poesia de Fernando Atallaia para exercício de aves, pessoas e lagartos




Espaçon(ave) mundestre na reentrância do ocaso
Um centavo de tempo para tempos de passado



homem em locomotiva segue despenhadeiro abaixo.



Espaço/sala para aves à espera do jornal diário
Uma senhora de cadeiras sentadas alça um voo no devir

No imaginário



Espaço erário em  velhices/morte para um homem a luz do sol.



Pedra/sofá para vistas sem paisagem
Mocho de existência dependurando pele e pensamento



Haja espaço para voos/rasantes de memória
Assobio de lagartos
Haja espaço
Haja espaço neste lamento



Uma criatura humaniza muros para pular por sobre a existência.







Lagartos ensaiam asas.




Haja mais
haja mais que voz entre lagartos rastejantes
Minhas mãos chorando baladeiras
Minhas asas instigantes


Já cantam as andorinhas a canção das pedras rejeitadas.




Espaçon(ave) nave/casa 







Asa delta/delta de miragem e um curió amanhecendo à luz de velas.

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segunda-feira, 2 de julho de 2012

Música Brasileira Independente em alta


Mercado fonográfico: Novos Canais

Folha SP

Gravadoras Independentes diversificam atividades


Independentes buscam novos negócios para ampliar faturamento
O músico Chico César, dono da Chita Discos, que fez parceria com grandes gravadoras para garantir distribuição

A ideia de crise no mercado fonográfico se repete como disco quebrado. Mas, enquanto lutam para aumentar a venda de CDs, as gravadoras apostam em diferentes canais para superar a estagnação.
Nessa toada, a área digital (telefonia móvel e internet), as associações com anunciantes, os licenciamentos, o agenciamento e a promoção de artistas são alternativas necessárias para alcançar bons resultados.
A transição é feita entre um modelo de negócio único de venda de suportes físicos e um multimodelo, destaca Paulo Rosa, presidente da ABPD (Associação Brasileira de Produtores de Discos).
O que era antes praticamente a única fonte de receita de um produtor fonográfico passa cada vez mais a dividir espaço e importância com outras fontes de receita derivada de música, acrescenta Rosa.

Pequenas

Nesse contexto, o espaço para as pequenas empresas vem crescendo. Na década de 1990, com a chegada das tecnologias digitais de gravação e a redução dos custos de fabricação dos CDs, surgiram centenas de gravadoras de menor porte. Até então, o mercado era constituído basicamente pelas companhias multinacionais, conhecidas como majors.
Segundo a ABMI (Associação Brasileira de Música Independente), que tem 120 gravadoras associadas, há cerca de 200 gravadoras independentes no mercado, ou seja, que não estão listadas entre as majors.
O papel das independentes no cenário é reconhecido pelas multinacionais. Nunca se produziu tanta música quanto hoje. Essa profusão produtiva envolve os independentes em todos os lugares do mundo, afirma Sergio Affonso, presidente da Warner Music Brasil.
Segundo João Moreirão, vice-presidente da ABMI, as independentes são responsáveis por 80% da música gravada no país. Quando se fala de consumo, os números se invertem: 80% dos produtos comercializados são das majors, e só 20% das vendas correspondem às gravadoras menores.

Parceria

Para dar vazão aos seus produtos, um dos caminhos encontrados por pequenas foi a parceira com majors.
O cantor e compositor paraibano Chico César, 45, criou seu próprio selo, que também é estúdio e editora, a Chita Discos. Uma major distribui melhor meu trabalho no mercado, conta César. Assim, ele é beneficiado com o investimento em marketing, na distribuição e na fabricação.


FORMATO ÚNICO NÃO FUNCIONA

Quem não se adapta à realidade do mercado não consegue se manter no ramo fonográfico.
É o caso da gravadora independente Kuarup Discos. Após 31 anos no mercado, a empresa fechou as portas no final de 2008. A crise do CD é irreversível e tornou inviável nosso modelo de negócio, diz o ex-dono da Kuarup, Mario de Aratanha, 64. A empresa havia se verticalizado em direção ao disco e se afastou das outras fontes da cadeia produtiva da música, avalia.
Aratanha aproveitou sua experiência no setor e investiu na CineViola, que produz DVDs musicais.

VENDAS DE CDS E DVDS REGISTRAM AUMENTO ENTRE AS GRANDES

Depois de três anos de retração, o mercado brasileiro de música teve um crescimento de 6,5% entre 2007 e 2008, de acordo com dados divulgados no mês passado pela ABPD (Associação Brasileira dos Produtores de Disco).

O número engloba receitas de vendas de CDs e DVDs, além da comercialização de produtos musicais no mercado digital (telefonia móvel e internet).

Foram contempladas nos dados apenas as dez gravadoras associadas à ABPD, que são cinco companhias multinacionais e cinco gravadoras independentes de grande porte. No total, o segmento musical movimentou R$ 359,9 milhões.

No Brasil, as vendas de produtos físicos (CDs e DVDs musicais) apresentaram um crescimento de 4,9%, enquanto as vendas no mercado digital subiram 79,1% em 2008, na comparação com 2007.
Nós somos uma companhia de música. O que está em transição são os canais de distribuição, mas o conteúdo nunca foi tão valorizado, destaca Marcelo Castello Branco, chairman da EMI Music South America e presidente da EMI Brasil.


COMO OS JOVENS CONHECEM NOVAS MÚSICAS

Estudo da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) apontou que 32,6% dos cerca de mil jovens ouvidos em 2008 sempre conhecem música por meio da internet, em sites de download. Amigos (54,1%) e rádio (51,4%), no entanto, foram os mais citados como fontes com que sempre conhecem música nova.

SEGMENTOS DIGITAIS ENGORDAM A RECEITA

Telefonia móvel e sites são canais para distribuição

O segmento da música digital representou 12% do mercado fonográfico em 2008. Dessa fatia, 78% (R$ 33 milhões) vieram da telefonia móvel, e 22% (R$ 9,68 milhões), da internet, de acordo com a ABPD.
Artistas, gravadoras e editoras precisam de um formato de música que funcione no maior número possível de aparelhos, orienta Marinilda Boulay, pesquisadora e organizadora das publicações Guia do Mercado Brasileiro de Música e Música: Cultura em Movimento.
A Trama criou sua fórmula para ampliar o número de fontes de receita. Além de fazer produção de shows, programas de rádio e de televisão, música para videogame, álbuns virtuais e CDs, a gravadora tem estúdio e editora.
Com o patrocínio de anunciantes, é gerado faturamento nos álbuns virtuais, conta João Marcello Bôscoli, 38, fundador da Trama.

CELULAR

Por ser um setor em que os downloads são mais facilmente controlados, a telefonia móvel é hoje responsável pela maior fatia do faturamento no mercado digital da música.
A Takenet, que licencia e disponibiliza conteúdos musicais para celulares e atua com as principais operadoras do país, tem cerca de 200 contratos com gravadoras independentes, de acordo com Juliano Braz, diretor de operações.

O faturamento com os ringtones pode ultrapassar R$ 100 mil por ano para independentes, aponta Braz.
O iMusica, empresa de gerenciamento de música digital, tem um acervo de 3 milhões de faixas, das quais 2 milhões são de gravadoras independentes. Com um CD entregue pela gravadora, distribuímos para cerca de 200 serviços no Brasil e no mundo, afirma o presidente, Felippe Llerena. Em média, 80% do lucro é repassado para as gravadoras. O iMusica fica com 20%.

O MySpace, site que reúne 170 mil artistas brasileiros, deve criar, até o final do ano, um mecanismo de venda de faixas musicais. Serve como popularização do artista e marketing e traz outros benefícios subsequentes, como a remuneração pelo direito autoral, explica Emerson Calegaretti, presidente do MySpace no Brasil.




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domingo, 1 de julho de 2012

A emergente música independente


Publicado em em Karina FrancisMatériasReportagens
Texto: Karina Francis
As últimas décadas foram marcadas por intenso avanço tecnológico, que se reflete em mudanças significativas na sociedade em geral. Na música não foi diferente. A mudança foi drástica devido o desenvolvimento da internet e de todos os elementos comunicacionais que surgiram por meio dela. Se a internet foi uma revolução muito importante no contexto mundial, certamente o que ela fez no cenário independente foi uma revolução dentro da revolução. Isso porque a internet possibilita a conexão com um grande número de pessoas, rompendo assim barreiras geográficas e possibilitando grande intercâmbio cultural, fazendo com que o conceito da palavra “independente” ganhe outras interpretações. Com isso, a música independente ganha espaço para a discussão sobre o “que é ser independente?”. Antes de entrar nesse assunto, é importante conhecer um pouco mais sobre essa história.
O início da música indie
Muitas pessoas acreditam que a cultura do independente nasceu com o movimento punk na década de 1970. Foi nesse período em que ela se disseminou pelo mundo. Entretanto, seus primeiros registros são datados da década de 1950, quando diversas pequenas gravadoras nasciam nos Estados Unidos. Essas gravadoras eram de associações das comunidades afro-americanas, que produziam seus materiais de forma autônoma, já que eram poucos os artistas negros que conseguiam destaque na mídia comercial. Assim, eles se organizaram em pequenos grupos e produziram seus trabalhos com os recursos disponíveis na época.
Foi na década de 1970 que surgiu o movimento punk “Faça você mesmo”. O movimento ganhou notoriedade porque não esperava aval de grandes empresas para lançar suas obras. As pessoas optavam por maneiras mais artesanais, e passavam a assumir o papel de patrocinadores dos seus trabalhos.
A ideia central era ter responsabilidade total sobre a obra, e todos os direitos sobre a mesma. Esse movimento não se restringe à música, se estende por todos os segmentos artísticos. Ele foi revolucionário porque motivou inúmeras pessoas a produzirem, sem que, para isso, estivessem incorporadas a grandes empresas. No caso da música, eram grandes gravadoras. Além disso, o conceito do “Faça você mesmo” possibilitava liberdade de criação, ou seja, não existiam regras, nem padrões a serem seguidos. Cada um produzia de acordo com sua vontade. Neste período houve uma explosão de trabalhos no segmento da música independente e de eventos relacionados ao cenário underground.
A indústria fonográfica
A primeira gravação do qual se tem registro no Brasil é da década de 1910: um samba escrito por Donga e Mauro de Almeida. Era uma gravação totalmente mecânica, reproduzida por fonógrafos. Em 1928, surge a gravação elétrica, predominando os 78 RPM, que continham uma ou duas músicas de cada lado. A melhora da qualidade das gravações só aconteceu em 1950 quando já era possível fazer a mixagem dos discos. Assim, o LP passou a substituir o 78 RPM, agrupando um número maior de músicas. Nos anos 1960 e 1970 as gravadoras passam a criar catálogos de música, ou seja, estabeleciam um padrão de músicos de qualidade. Quem não estivesse nesse catálogo estava excluído da “lista” do que era considerado bom. O catálogo brasileiro incluía músicos como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, entre outros.
Nesse período, as etapas de produção começam a se tornar mais sofisticadas. Desse modo, passaram a custar caro. Portanto, as gravadoras investiam apenas em quem interessava. O lucro passa a ser objetivo maior do que a fomentação da cultura. As majors, como são chamadas as grandes gravadoras, não só determinavam o que as pessoas iriam consumir como música, mas também qual era o estilo do momento, os artistas do momento, o som do momento. Entende-se por majors, as seguintes gravadoras Sony, BMG, Som Livre e EMI.
Nos anos 1980, os LPs passaram a ter custos altíssimos devido a duas crises mundiais de petróleo. Nessa condição, o espaço para viver de música no Brasil era para poucos. Foi nesse período que a música independente no país deu seu primeiro passo com a abertura de pequenas gravadoras. Em 1990, os custos de produção começaram a diminuir por causa dos recursos digitais, que começam a circular. O que parecia ser o declínio da indústria fonográfica era certamente a força das indies, nome pelo qual as gravadoras independentes são conhecidas. O cenário underground começa a ganhar forma física, e, de maneira tímida, consegue explorar o mercado. Atualmente, as gravadoras independentes estão desenvolvendo trabalhos de altíssima qualidade, e possuem estrutura semelhante as das majors.
Mas a grande questão entre as gravadoras comerciais e as independentes é a forma como é enxergado o negócio da música. Um artista independente recebe todos os lucros do seu trabalho, dos shows e dos CDs. Em longo prazo, será possível pagar os custos de produção e ainda obter lucro. Se o projeto contar com alguma lei de incentivo à cultura, praticamente todos os gastos já estão previstos no projeto. Se compararmos essa realidade com a de um contrato padrão de uma major, percebemos uma grande diferença: o rendimento para o artista fica somente em torno de 5% do que é vendido. Assim, torna-se possível que um artista independente, dependendo da sua carreira e do seu público, tenha um retorno financeiro com seus CDs no mínimo igual ao de um contrato com uma major, mesmo que a quantidade produzida seja significativamente menor.
Underground x Mainstream
O ambiente onde circulam as bandas independentes é conhecido como underground, que segundo o dicionário Aurélio, significa “subterrâneo”, expressão usada para designar algo que foge dos padrões comerciais, dos modismos, que está fora da grande mídia.
A expressão “deixou o underground”, ou “saiu do underground”, refere-se a artistas ou movimentos que se tornaram populares e adquiriram notoriedade para conquistar o grande público, passando a fazer parte do mainstream. Este último termo é disseminado principalmente pelos meios de comunicação de massa e muitas vezes é usado de forma pejorativa para artistas que apelam para fórmulas tradicionais para conquistar público e dinheiro com sua arte.
Entende-se que o conjunto de práticas que as bandas independentes estão configurando no mercado alternativo está formando um conceito de cultura fora do eixo, termo utilizado para aqueles que divulgam seu trabalho atráves de mídias alternativas.
Situações novas pedem conceitos novos
Que artistas independentes são aqueles que não estão vinculados a grandes gravadoras e que possuem controle de suas obras é fato. Ainda assim, a música independente brasileira vive uma fase de definição. Isso porque, a internet como ferramenta de divulgação ainda tem muito por oferecer, e não existe ainda controle sobre isso. Em certos casos, a facilidade de produzir, gravar e disponibilizar na internet acabou deixando o mercado musical inchado devido à imensa variedade de bandas e sons, muitas vezes sem critérios de qualidade sonora. Mesmo assim, não se pode misturar esses fatos com o mercado da música alternativa, que a cada dia apresenta crescimento nos padrões de qualidade.
Ser independente não é ser sozinho. Afinal, no mundo virtual em que vivemos, nunca se está sozinho. Por isso, o conceito de “independência” ganha novas interpretações.
A emergente música independente brasileira já se configurou culturalmente e saiu da marginalidade há algum tempo, não configurando a classe de músicos excluídos. Muito pelo contrário, ela está mais resistente a cada dia e com uma oferta de músicos de alto padrão, consolidando cada vez mais seu espaço no mercado atual.

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segunda-feira, 2 de abril de 2012

CRÍTICA LITERÁRIA:OTTO MARIA CARPEAUX

Otto Maria Carpeaux e a crítica literária para um Brasil indiferente

''A relevância da obra ensaística do crítico Otto Maria Carpeaux para cultura universal e, especialmente a brasileira, é, irrefutavelmente, uma sentença ao advento do...''
Por Fernando Atallaia

A relevância da obra ensaística do crítico Otto Maria Carpeaux para cultura universal e, especialmente a brasileira é, irrefutavelmente, uma sentença ao advento do pensamento moderno responsável por lançar as bases do fortalecimento da identidade nacional, em época contemporânea.

Quer seja ele cultural( estética, literatura, filosofia), quer seja estrutural(na abrangência de uma política cultural voltada à deflagração dos valores imateriais, artísticos e signos passivos de análise), este pensamento do crítico literário no humanista se fundiu de forma exemplar e antagônica.

A soberba do conhecimento de Otto Maria Carpeaux no Brasil ganha carga de continentalidade e as fibras tropicais de um país que na visão do crítico arguto foi bem mais que as odes nativistas de um Modernismo que estagnou no folclorismo barato de quem ovacionou a dita 'cultura brasileira' na ambiência dos aspectos naturais e empíricos de uma nação já explorada e devidamente dominada por uma burguesia ''detentora'' do conhecimento e da sapiência.

O nosso ensaísta amava e amou este país para além destas e outras configurações restritivas e aparou as arestas existentes: imprimiu no Brasil local, tribal e protecionista a cultura clássica e a erudição em níveis compatíveis. Otto sabia lapidar e por em gradação um Raul Bopp de Cobra Norato com as verves histórico-pensamentais de um Sócrates monumental, que na sua visão, sempre foi um gênio inacabado. Assim como o nosso Brasil até hoje o é.

A obra crítica de Otto Maria Carpeaux, um dos autores de minha predileção no Ensaio e História Literária é hoje revivida, relembrada e contextualizada por este texto meu de apresentação. Serei conciso e breve. Aí vai também a rápida  abordagem de Carlos Heitor Cony. Boa Leitura!
 

Fernando Atallaia foi repórter-correspondente dos jornais Tribuna do Nordeste, Extra, A Tribuna e A Tarde entre os anos 2004 e 2013 em São José de Ribamar. Editor de Cultura da extinta revista Caminhos do Maranhão, foi colunista dos Jornais Portal do Maranhão, Tribuna Popular Luminense, A Tarde e Jornal Pequeno (Suplemento JP Turismo). Atualmente é o Editor-Chefe e Publisher do blog oficial da Agência de Notícias Baluarte-ANB Online. Além de jornalista, é cantor, compositor, músico e poeta. Prêmio Estadual de Poesia do ano 2001 da Universidade Federal do Maranhão-UFMA, Fernando Atallaia tem 19 livros inéditos, dentre os quais se destaca o denso Ode Triste para Amores Inacabados. 

Impressões sobre Otto

A importância da atuação de Otto Maria Carpeaux na cultura nacional é um fato que nunca foi contestado, embora nem sempre compreendido em sua extensão humanística. Durante a sua vida, formou-se em torno dele um grupo de intelectuais e artistas que nele encontraram, em primeira mão, as tradicionais heranças que sempre buscáramos na Europa, momentaneamente interrompidas pela segunda guerra mundial.

Agora, 21 anos após a sua morte, com a reedição cuidadosa de suas obras principais pela Faculdade da Cidade Editora sob orientação de Olavo de Carvalho, as novas gerações nele poderão encontrar a visão abrangente de um verdadeiro scholar, de um espírito superior que armazenou amplos conhecimentos em vários setores da cultura ocidental e soube transmiti-los em notável coleção de ensaios, artigos e estudos.

No substancioso prefácio à reedição dos principais livros de Carpeaux, assinado por Olavo de Carvalho, temos um painel crítico desse importante momento da vida cultural brasileira. Ao mesmo tempo em que Carpeaux transmitia, também assimilava, interpretava e ampliava a nossa realidade intelectual. Daí que dois dos maiores espíritos daquela época, Carlos Drummond de Andrade e Alceu Amoroso Lima, apesar de cultivarem pontos de vista diferentes, uniram-se em consenso para realçar a importância do autor de A Cinza do Purgatório no panorama paroquial de nossa cultura.

Curiosamente, Carpeaux e Olavo não se conheceram. Um dos desencontros que eu considero mais cruéis do destino, uma vez que os dois, guardadas as posições radicalmente pessoais de cada um, tinham um approach idêntico da condição humana. Até mesmo na capacidade da exaltação e da polêmica. De minha parte, considero-me redimido por encontrar na presente edição das obras de Carpeaux o sonho que persegui durante anos mas para a qual não tive tempo e competência para realizá-lo.

Carlos Heitor Cony é romancista, Cronista e Memorialística. Pertence aos quadros da ABL. 

Quatro ensaios memoráveis de OTTO MARIA CARPEAUX







NOTAS

  1. Até 1997 os arquivos pessoais de OMC, conservados na Fundação Casa de Rui Barbosa, não tinham sido catalogados. [N.E.]
  2. V. uma lista no final destes Ensaios Reunidos. [N.E.] 
  3. Insuflado por um grupo de comunistas de Minas Gerais, que lhe passaram informações falsas sobre Carpeaux (falsas ao ponto de fazer do exilado um suspeito de simpatias nazistas), o romancista francês Georges Bernanos, homem honesto mas de temperamento arrebatado e colérico como aliás o próprio Carpeaux, embarcou na conversa e publicou um artigo furioso contra o crítico recém-naturalizado. O episódio está documentado em artigos que serão reproduzidos no volume de Escritos Políticos. Houve também uma "campanha sórdida liderada por Oswald de Andrade" (Franklin de Oliveira, A Semana de Arte Moderna na Contramão da História e Outros Ensaios, Rio, Topbooks, 1993, p. 146) e uma intriga armada pelo semanário Diretrizes, que explico mais adiante. — Tudo isto, naturalmemente, sem contar as puras incompreensões sem malícia, como a de Eduardo Portella, que acusou Carpeaux de não entender os "caracteres específicos" da literatura brasileira (besteira pura, como explico na p. 266 de O Imbecil Coletivo, 5a. ed.), ou a de Paulo Hecker Filho, que reduziu o crítico à estatura de "um grande jornalista" (título de um artigo conservado, sem data nem nome da publicação, entre os papéis de Carpeaux nos Arquivos da Fundação Casa de Rui Barbosa). [N.E.]
  4. Se hoje muitos de seus textos parecem de leitura difícil pela quantidade de alusões a obras e autores desconhecidos, é porque já não existe um público medianamente culto como o de quatro décadas atrás. Massacrado sob as toneladas de insignificâncias que a indústria editorial lhe impinge, o leitor de hoje acaba não tendo tempo para formar uma idéia do passado literário mediante a leitura dos autores básicos — justamente aqueles cujo conhecimento era possível dar por pressuposto no leitor médio da época de Carpeaux. [N.E.] 
  5. V. "A idéia de universidade e as idéias das classes médias". [N.E.]
  6. V. "Leviatã". [N.E.]
  7. V. no vol. III destes Ensaios Reunidos, "Agonia do liberalismo". [N.E.]
  8. Enquanto eu preparava esta edição, os fatos do dia se incumbiram de mostrar o quanto podia ser profético esse apreciador de profetas que foi Otto Maria Carpeaux: os acontecimentos da PUC-Rio, que analisei em A Longa Marcha da Vaca para o Brejo (Rio, Topbooks, 1998), ilustram da maneira mais eloqüente "A idéia de universidade e as idéias das classes médias". [N.E.]
  9. Rosenstock-Huessy, filósofo e historiador empenhado em resgatar o elemento divino nas origens da linguagem (em estreita colaboração com o filósofo judeu Franz Rosenzweig, autor de A Estrela da Redenção), foi um dos inspiradores dos Peace Corps norte-americanos, contra os quais Carpeaux viria depois a escrever alguns artigos, sem dar sinal de saber da participação que neles tivera o seu venerado mestre. No belo comentário que Carpeaux em 1942 consagra a seu livro Revoluções Européias, Rosenstock-Huessy é designado apenas como Rosenstock, pois só veio a adotar o sobrenome Huessy ao transferir-se para os EUA no final dessa década. [N.E.]
  10. V. "Solidão de Croce". [N.E.]
  11. "Tradição e tradicionalismo". [N.E.]
  12. Id. — E não é significativo que mais tarde se tenha instaurado mais uma inquisição sob o pretexto de democracia racial, condenando como racista quem quer que ouse afirmar, por exemplo, a superioridade do cristianismo sobre os cultos de tribos antropófagas? [N.E.]
  13. V. "A lição de uma santa". [N.E.]
  14. Compare-se, por exemplo, seu elogio a Charles Morgan no ensaio "A lição de uma santa" (1942) com a irritada má vontade com que em 1966 ele fala do romancista na História da Literatura Ocidental, VII, p. 3372. [N.E.]
  15. Ele chega a procurar enxergar uma "utopia cristã" na República Espanhola de 1931 —explicitamente condenada pelo Papa por fazer vista grossa à violência comunista contra a Igreja, que acabou resultando, nos anos seguintes, no massacre de 19 mil padres e freiras antes mesmo do início da Guerra Civil. V. "García Lorca", em Origens e Fins. — Diante disso perde toda eficácia a incomparável retórica da "Oração fúnebre por Charles Maurras", onde Carpeaux, falando como porta-voz do catolicismo, assume a defesa da ortodoxia romana, que para atender a pressões do setor "progressista" condenara a Action Française, movimento ultradireitista — mas não anticatólico — chefiado por Maurras. Pois afinal a Action Française não cometera violência nenhuma e o próprio Maurras jamais defendera sequer uma aliança com o nazismo; ao contrário, insistira na necessidade de rearmar a França contra o ataque germânico, que julgava iminente, enquanto os líderes do progressismo (Emmanuel Mounier, por exemplo) pregavam o desmonte do Exército francês e enxergavam em Hitler "as melhores intenções". Maurras depois colaborou com o governo de Vichy, mas, quando no pós-guerra os progressistas o acusaram de "traição", foi apenas para esconder por trás da acusação as suas próprias vergonhas, já que eles mesmos tinham fomentado um resultado ao qual Maurras não fizera senão conformar-se ex post facto. Carpeaux, ao assumir o dircurso progressista contra Maurras, provavelmente ignorava estes fatos, que só vieram a ser enfatizados muito depois (v. Lucien Thomas, L’Action Française devant l’Église de Pie X à Pie XII, Paris, Nouvelles Éditions Latines, 1965). [N.E.]
  16. "Visão de Graciliano Ramos", em Origens e Fins. [N.E.]
  17. Emprego aqui "forma" e "matéria" no sentido aristotélico, não na acepção vulgar de "forma e conteúdo". [N.E.]
  18. Estetica come Scienza dell’Espressione e Linguistica Generale, 11a edizione, Bari, Laterza, 1965, pp. 24-25. [N.E.] 
  19. Erich Auerbach, Mimesis. The Representation of Reality in Western Literature, transl. by Willard Trask, New York, Doubleday, 1957. [N.E.]
  20. "Perspectivas da interpretação", em Livros na Mesa. [N.E.]
  21. Carpeaux não viveu o bastante para estudar em profundidade as novas tendências da crítica que se tornaram hegemônicas a partir da década de 70. (Apenas examinou de leve algumas idéias de Barthes e Lévi-Strauss num artigo publicado no Jornal do Brasil, "O tema é o estruturalismo" — v. o vol. III destes Ensaios Reunidos —, concluindo que a nova moda, nascida das desilusões da esquerda, era "um ópio dos intelectuais".) Mas creio que hoje subscreveria a opinião de Harold Bloom e René Girard, que reduzem essas tendências a sintomas de um ressentimento de acadêmicos medíocres contra a literatura criadora. V. Harold Bloom, The Western Canon: The Books and School of the Ages. New York: Harcourt Brace, 1994; René Girard, A Theater of Envy: William Shakespeare. New York: Oxford University Press, 1991; e Mathew Schneider, "Mimetic Polemicism: René Girard and Harold Bloom contra the ‘School of resentment’. A review essay", em Anthropoetics II, no 1 (June 1996). [N.E.]
  22. História da Literatura Ocidental, "Introdução", vol. I, p. 30 da 2a edição (Rio, Alhambra, 1978). [N.E.] 
  23. "Obra-prima da literatura universal", em Livros na Mesa. [N.E.]
  24. V. História da Literatura Ocidental, pp. 34-36 da edição Alhambra. [N.E.]
  25. Outro injustiçado, outro homem nobre que sacrificou seu gênio e sua carreira literária ao jornalismo e à política de esquerda, para depois ser solenemente ignorado por imbecis presunçosos que não seriam dignos de lhe beijar os pés. Franklin escreveu a única coletânea de ensaios que pode ser comparada sem desvantagem às de Otto Maria Carpeaux: A Fantasia Exata. Ensaios de Literatura e Música (Rio, Zahar, 1959). Só o insubstituível José Mário Pereira tem feito algo por que não se perca o legado dessa grande alma e grande inteligência, editando por exemplo "antologia crítica" A Dança das Letras (Rio, Topbooks, 1991). [N.E.] 
  26. Thomas Mann, Doutor Fausto, trad. Herbert Caro, Rio, Nova Fronteira, 1984, p. 13. [N.E.]
  27. "Hofmannsthal e seu Gran Teatro del Mundo", em A Cinza do Purgatório.. [N.E.]

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