sexta-feira, 20 de setembro de 2013

CULTURA BRASILEIRA: CONHEÇA A TESE DE DOUTORADO SOBRE A ''DEGENERAÇÃO'' DA MÚSICA


Tese de doutorado sobre a "degeneração" da música brasileira    

Estudo acadêmico parte do forró eletrônico para investigar o que muitos chamam de “degeneração” da música popular. "Luiz Gonzaga, por exemplo, embora seja o símbolo maior do forró e tratado com respeito pela maioria dos nordestinos, acaba sucumbindo a essa indústria cultural"

 
A música brasileira está decadente – sans élégance. Difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido uma frase como essa. Refine o gênero, e as frases continuarão a fazer sentido para muitas pessoas. O funk, o sertanejo, o forró, o pop, todas as músicas consumidas pelas massas não prestam.
Um estudo acadêmico parte do forró eletrônico, ouvido à exaustão em todo o Nordeste, para investigar o que muitos chamam de “degeneração” da música popular. O professor Jean Henrique Costa, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, obteve o título de doutor em Ciências Sociais com a tese “Indústria Cultural e Forró Eletrônico no Rio Grande do Norte”, defendida em março de 2012 na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

O pesquisador defende que o gênero preferido entre os nordestinos faz parte de uma engendrada indústria cultural, por meio da qual são criadas e sustentadas formas de dominação na produção e na audição desse tipo de música.

Segundo ele, quando uma banda de forró eletrônico recorre a canções de temática fácil, na maioria das vezes ligadas à busca de uma felicidade igualmente fácil, ela está criando mecanismos para a formação de um sistema de concepção e circulação musical. Nele, nada é feito ou produzido por acaso. Tudo acaba virando racionalizado, padronizado ou massificado.

aviões do forró música brasileira
Banda Aviões do Forró: música 'degenerada'
O ideal de uma vida festeira, regada de uísque, caminhonete 4×4 e raparigas (mulheres) é hoje um símbolo de status e prestígio para muitos dos ouvintes. Ninguém quer ficar de fora da onda de consumo. Numa das partes da pesquisa, Costa analisou o conteúdo das letras dos cinco primeiros álbuns da banda Garota Safada e descobriu que 65% das músicas falam de amor, 36% de sexo e 26% de festas e bebedeiras.

“Parte expressiva das canções de maior sucesso veicula a ideia de que a verdadeira felicidade acontece ‘no meio da putaria’, ou seja, nos momentos de encontros com os amigos nas festas de forró”, escreveu Costa. “Não se produz determinada música acreditando plenamente que se está criando uma pérola de tempos idos, mas sim um produto para agradar em um mercado competitivo muito paradoxal: deve-se ser igual e diferente concomitantemente.” Ou seja, a competitividade do mercado induz à padronização dos hits.

“O que move o cotidiano é isso mesmo: sexo, amor, prazer, diversão. O forró e quase toda música popular sabem muito bem usar desse artifício para mover suas engrenagens”, explicou Costa. “Não é por acaso que as relações sexuais são tão exploradas pelas canções de maior apelo comercial a ponto de se tornarem coisificadas à maneira de clichês industriais.”

REFERENCIAL TEÓRICO

Outros gêneros musicais também recorrem a estratégias semelhantes. O forró eletrônico consegue se diferenciar dos demais ao dar uma roupagem de “nordestinidade”, criando a identificação direta com o seu público. Mas o objetivo final de todos é proporcionar diversão. O problema, segundo Costa, é que “se vende muito pão a quem tem fome em demasia”.

Costa baseou sua pesquisa no referencial teórico de Theodor W. Adorno, um dos ideólogos da Escola de Frankfurt. O pesquisador procurou atualizar o conceito de indústria cultural a partir da constatação de que as músicas do forró eletrônico são oferecidas como parte de um sistema (o assédio sistemático de tudo para todos) e sua produção obedece a critérios com objetivos de controle sobre os efeitos do receptor (capacidade de prescrição dos desejos).

O pesquisador recorreu ainda a autores como Richard Hoggart, Raymond Williams e E.P. Thompson para abordar o gênero musical a partir da leitura dos estudos culturais (a complexa rede das relações sociais e a importância da comunicação na produção da cultura), que dialogam com outro conceito anterior, o de hegemonia, de Antonio Gramsci. Pierre Bourdieu também serve de referencial teórico.

Ao amarrar essas teorias, o pesquisador argumenta que o público consumidor de músicas acaba fazendo parte de esquemas de consumo cultural potentes e difíceis de serem contestados. Neles, até o desejo acaba sendo imposto. Em entrevista a FAROFAFÁ, Costa exemplifica esse fato com a atual “cobrança” pelo consumo de álcool, onde a sociabilidade gira em torno de litros de bebidas.
“O que se bebe, quanto se bebe e com quem se bebe diz muito acerca do indivíduo. O forró não é responsável por isso, mas reforça.” Para o pesquisador, o consumo de bebidas se relaciona com a virilidade masculina, que, por sua vez, se vincula à reprodução do capital.

“Não reconheço grande valor estético (no forró eletrônico), mas considero um estilo musical que consegue, em ocasiões específicas, cumprir o papel de entreter”, afirmou. O pesquisador ouve todo tipo de música (samba-canção, samba-reggae, rock nacional dos anos 1980 e 1990, bolero, tango, entre outros), mas sua predileção é por nomes como Nelson Gonçalves e Altemar Dutra.

Para cobrir essa lacuna sobre o gênero que iria pesquisar, Costa entrevistou nomes como Cavaleiros do Forró, Calcinha de Menina, Balança Bebê eForró Bagaço. O seu objetivo foi esquadrinhar desde uma das maiores bandas de forró eletrônico do Rio Grande do Norte até uma banda do interior que mal consegue fazer quatro apresentações por mês e cobra em torno de R$ 500 por show.

É dentro desse contexto de consumo de massa de hits que nascem e morrem, diariamente, pelas rádios e carrinhos de CDs piratas, que prevalece o forrozão estilo “risca a faca” e “lapada na rachada”, para uma população semiformada (conceito adorniano de Halbbildung), explica Costa. Sobra pouco ou nenhum espaço para nomes consagrados do gênero.Entre os extremos de quem ganha muito e quem mal consegue sobreviver com o forró, o professor constatou que o sucesso é um elemento em comum, e algo difícil de ser obtido. Depende de substanciais investimentos financeiros e também do acaso – ter um hit pelas redes sociais ajuda. É por isso que Costa afirma que Aviões do Forró e um forrozeiro tecladista independente estão em lados completamente opostos, mas ainda têm algo basilar em comum: a indústria cultural.

Luiz Gonzaga, por exemplo, embora seja o símbolo maior do gênero e tratado com respeito pela maioria dos nordestinos, acaba sucumbindo a essa indústria cultural. “A competição é desigualmente assimétrica para o grande Lua. O assum preto gonzagueano, nesse sentido, bateu asas e voou.”
Costa diz não ser um pessimista ou só um crítico ferrenho do forró eletrônico.

Tampouco que tem pouca esperança de que a música brasileira seja apenas uma eterna engrenagem da indústria cultural. Ao contrário, é dentro dela própria que ele vê saídas para o futuro da produção nacional. “Se vejo alguma possibilidade de mudança pode estar justamente nesses estúdios caseiros de gravação de CDs, nas bandas de garagem, no funk das periferias, no tecnobrega paraense. Não afirmo que a via é essa, mas que é um devir, uma possibilidade que pode não ir para além do sistema, mas minar algumas de suas bases”, concluiu.


Confira aqui a Tese de Doutorado na íntegra


Eduardo Nunomura – Farofafá, CartaCapital

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quarta-feira, 10 de julho de 2013

POEMA ''ODE FUTURISTA PARA ANDY BROWN'' DE AUTORIA DO POETA MARANHENSE FERNANDO ATALLAIA



Poesia sempre!



Leia na íntegra o poema ''Ode futurista para Andy Brown'' do livro inédito Ode Triste para Amores Inacabados de autoria do poeta e escritor ribamarense Fernando Atallaia

Ode futurista para Andy Brow


Eu tenho um sonho

Daqueles que saltam à vista a procura de futuros


Um sonho líquido na paisagem densa
Ali na janela sem crepúsculos


Como se ela adentrasse casas como se ela inaugurasse um sol



 
Este sonho de vê-la nua entre as nuvens do pensamento
Eu tenho um sonho derramado entre as ancas de Andy Brown
Aquela pele em santuário me guardando num espaço reclamante

De um pulo ululante aos conchavos dos poros reticentes

Um sonho com Andy Brown vê-la tocar noites fazendo de um açoite um dia através

Um paiol de caracóis além

Águas fatídicas nunca mais! Que venha o tempo de Andy Brown

Sonho de carne e osso em curvas de luxúria da chama ao pescoço 

Sim! Eu tenho um sonho

Acordar cantando a sedenta dama das línguas de anteontens

A linda virgem de eternidades recolhidas

 A minha linda meretriz primeira e última esponsal

Eu tenho um sonho!

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segunda-feira, 6 de maio de 2013

MÚSICA INDEPENDENTE NO BRASIL: MOVIMENTOS


Música independente no Brasil: a Vanguarda Paulista


Na virada da década de 70 para os anos 80, o movimento da música independente tornou-se mais forte no Brasil. O Teatro e Gravadora Lira Paulistana, em São Paulo, foi o epicentro desse fenômeno. A movimentação, no entanto, não se resumiu a grupos e artistas desvinculados das grandes gravadoras, mas também ao surgimento de uma nova estética musical, que foi denominada de Vanguarda Paulista.

O Lira Paulistana abrigou, ao mesmo tempo, novas bandas paulistas que ajudaram na renovação do pop-rock brasileiro dos anos 80, como Titãs e Ultraje a Rigor, e as experimentações da Vanguarda Paulista, encabeçadas por Itamar Assumpção, Premeditando o Breque e Rumo. Algumas propostas vanguardistas desses artistas trabalharam nos limites entre a música erudita contemporânea e a canção pop. Como no caso de Arrigo Barnabé, com suas incursões pelo dodecafonismo e pela atonalidade misturados a elementos do rock. Arrigo Barnabé inaugurou essa nova estética com o lançamento do disco independente “Clara Crocodilo”, em 1980.

Clara Crocodilo
O álbum "Clara Crocodilo",
de Arrigo Barnabé, inaugurou
o movimento da Vanguarda Paulista

Desde então até 1985, houve uma intensa produção de música independente sob o rótulo da Vanguarda Paulista. Apesar de não haver uma uniformidade estética nela, alguns elementos caracterizaram os trabalhos produzidos nesse período da música alternativa em São Paulo. O predomínio da fala nas canções, ou de um cantar falado, é uma marca do grupo Rumo e de alguns trabalhos de Itamar Assumpção. No caso do Língua de Trapo e do Premeditando o Breque, a principal característica é o humor, com letras irônicas e sarcásticas cantadas sobre uma diversidade de sonoridades, do heavy metal ao samba-de-breque. Em toda a produção da chamada Vanguarda Paulista, no entanto, um elemento comum é a crítica, principalmente cultural e política.

Itamar Pretobrás
Capa do álbum "Pretobrás", de Itamar Assumpção,
um dos principais nomes da Vanguarda Paulista


Assumidamente alternativo e com intenções de conduzir uma renovação na canção popular jovem, a primeira desde o tropicalismo no final dos anos 60, a Vanguarda Paulista não se popularizou além do circuito artístico e universitário de São Paulo. Nascido no underground, ele foi ao longo dos anos 80 se diluindo sem virar um sucesso comercial, naquele momento alcançado pelos grupos que fizeram a renovação do pop-rock brasileiro. 

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